domingo, 3 de junho de 2012

A CASA DA COLINA

 
Atrelado na carruagem dos sonhos,
Inusitado na paragem dos meninos risonhos,
Inesperado no inesquecível,
O que fiz eu para de fato,
Esquecer?
O que fiz eu para no ato,
Merecer,
Algo além do ingrato
Algo além da casa abandonada na colina
Devorada pelo mato,
Engolida pela neblina,
A casa dos sonhos famigerados,
No olvido das vozes
Indiferentes,
Apagados,
A casa dos sonhos deformados,
Em cópulas velozes,
Delinqüentes,
Transtornado
A casa dos sonhos calados pela eternidade voraz do não retorno
O tempo que cala
A alma que não fala
O tempo que exala
Perecimento
O tempo que falta
Para acabar
O tempo
Do desespero das almas caladas
Atreladas na carruagem da resignação
Sem tempo para agir
Sem ação
Fibras desossadas
Um Esqueleto de aço domesticado
Preso solto no jardim
Dos pássaros sem asas
Morto escopo soterrado no cemitério logo acima
Da multidão dos dias,
Acendia uma casa
A casa da colina
Resplandecia,
Com a dor matutina da áspera letargia
No engano de uma mágica rotina
Emulsionada pela inconsciência
Movida pela não reflexão
ou a mera simples da dor
Percepção
Da falta de uma perna
Quando dança a bailarina
A falta de uma coroa
Quando reina a czarina
A ausência de cor verde nas gramíneas da campina
Envolvendo de sangue a morte atemporal
Circundante,
Na colina
A casa dos sonhos de rapina
Quando a morte serpentina
Na dor que a alma nublada
Sabatina
No Túnel Sabático da introspecção
A morte dos sonhos plastificados
Pela voracidade das plantas de borrachas
Plantadas ao redor da casa
Na surdina
Enchendo os quartos com corpos
E lembranças do esquecível
Enchendo de corpos
A pscina
Com rosto no lugar dos azulejos
Com gosto humano nas pastilhas
A casa aquecida de sombras
E de possibilidades humanas
De vacinas
Para além da colina e sua loucura
a dor da rejeição e da cura
e na rapina,
do verde em preto e branco
via da casa uma ruína
desmerecimento do resto do tempo
que empregnado no olvido
ainda urdia,
e existia sem consolo gritando em suas pulseiras
acorrentado em seu olhar esguiu de ponteiro sinistro
sem pressa
o porteiro de mefisto
insistia
em somente
acontecer
na surdina
nas entranhas do porão
daquela casa
esquecida na colina
maculada pela neblina
de não ser
solidão fora das névoas
luz na escuridão
do desespero
do desengano
do obituário eterno perdulário do tempo
que passa
que amassa
que estilhaça
a massa
a taça
a caça
na colina
a casa
dos sonhos famigerados
empobrecidos
aprisionados num quadro
de ilusão
e devaneio
os sonhos das crianças
brincando na hora do recreio
adormecidos para sempre naquela colina
na dor de  uma cega imagem
enfeitados por confetes de cristal e rasos personagens
de lantejoulas e porpurina
amarga sabotagem
enfeitando os píncaros
e os cumes
rarefeitos do contratempo
numa terra sem lumes
onde não mais piscam os vagalumes
onde não mais agitam-se as vagas
onde a procela não existe fora da cela
e numa casa esquecida na colina
sem portas e sem janelas
uma casa muito engraçada
desgraçada
descalçada a cinderela
na calçada da lama
sem sapato
e sem fama
eternamente um jovem envelhecido
pelo amargo dos dias que ainda ama
Os sonhos na colina
uma casa, uma ruína
a dor que na alma
descortina
a morte repentina
da ausência em solidão
Nas terras áridas de uma alma corvina
Atrelado na carruagem dos sonhos,
Inusitado na paragem dos meninos risonhos,
Inesperado no inesquecível,
O que fiz eu para de fato,
Esquecer?
E merecer,
Algo além do esquecimento?

Fernando Castro

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