sábado, 12 de maio de 2012

O NAVIO FANTASMA

A pele,
Navio fantasma vaga solto pelo mar dos corpos
Fogo de uma chama em vela que arde,
Queima e arrasta as mãos úmidas pela cintura encharcada por erupções das entranhas
Estranhas
Navio fantasma que engole
A morte do pavio
A asma
Embaixo da pele,
Transparente
Veneno agudo na dor que sente e reclama
Um pavio sem chama
Sem vela,
Esse barco navio
Fantasma
Na dor de saber que não resta ninguém para culpar
E ninguém para sentir
Tua asma em volúpia
Doida em carne viva de vida e loucura
Pelas erupções cutâneas
Ao longo da cintura
Da dor de saber
O quanto de não ser esta dentro do copo
Vidro boêmio sustentáculo das tuas digitais enfermas
Quadradas no redondo da vida
Sutis porém assassinas
Em baixo do tapete
Em baixo da pele
Ardente,
Na semente da dor que não se sente
A faca de dois gumes enterrada na barriga
O punhal entre os dentes
Não sente, mas mata
Dilacera o vertebrado dentro de nós
Moendo os ossos no escuro
Transformando a alegria em fumaça
Não,
Direi eu não a tua taça
E por mais que faças desaparecer a consciência de que se perde tempo
Mesmo não admitindo o seu conluio irreversível que devora,
Os seus cegos ponteiros no mundo
Na dor de ao menos por um segundo
Não perceber que de fato dói
E arde
E rasga
Como corta o vento
Fatal do amanhã desse tempo
Fantasma
Assoprando embaixo da pele a sua velocidade sorrateira
Ardilosa
Assoprando as pétalas da rosa
Para assim
Sem mais ser
Incorrigível,
Desaparecer
Sem tempo de volta
Sem pele
E somente encarnar
A morbidez dos ossos
E encarar
A umidade da terra
E assim talvez,
Dessenterrar o próprio corpo coberto de pó
Com uma pá chamada vontade
Talvez assim os ponteiros fiquem mudos novamente
E o tempo volte a não existir
A não arrastar
A cada segundo essa carcaça para cova
Para o covil dos fantasmas
Na ilha do medo
Onde tantos navios perderam seus mastros
Onde tantos Ulisses enlouqueceram de tanto ouvir
O canto magnífico da morte
Enlouqueceram de tanto não ser,
Amarrados,
Dependurados no mastro da solidão
Na terra fantasma dos mortos
Na gélida  volúpia quente dos tantos corpos
Que se agarram para fingirem que não estão
Mortos
Um corpo fantasma
Embaixo da pele
A eterna asma de não ser
Toda humanidade ao mesmo tempo
Toda maravilha que vive
E liberta do mastro
Dilui-se em alegria
Brilha seu astro
Seu sorriso imortal
Para alem do vazio carnal daqueles corpos
Dos vivos mortos
Que sem saber
Ou talvez,
Sabendo que sabem que não sabem
Se embrulham,
Infinitamente mortos
Com a asma na pele
A asma fantasma
Daqueles corpos molhados
Dos vivos mortos
Presos dentro de um quarto
Afogados dentro de um copo

FC

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