sexta-feira, 4 de maio de 2012

A DAMA DE CASTRO


No alto da torre,
Tenho o que quero
O que nunca morre,
Minha dama de ferro,
Por cada orifício,
Do juntar de meus dias,
A cada desperdício
Da voracidade diluída
Por teu carinho em sufoco
Com teus excessos de colo
Em tudo que quero
Minha dama de ferro
Sempre disposta
Sempre a servir
Nas barras e nas grades
Desse grande porvir

Como posso sustentar o peso se não sei pisar?
Como deve-se caminhar quando teus olhos cuidaram para que eu não precisasse enxergar?
No fundo do poço, tinha sempre uma lama
E na escuridão dessas trevas, sempre teus olhos de ferro,
As duas lanternas
Teus olhos de Dama,
Em meus pareceres,
Em meus disparates,
Na confusão de não saber o que se quer
Estavas linda e perfumada,
Com teus lábios de mulher,
Para com minha indecisão desaparecer,
Lixando minhas garras
Com o teu infalível proteger
Costurando as minhas amarras
Num jeito invisível de preencher
Cada espaço, cada pedaço,
Cada cosmos do meu ser,
Penetrado pela tua colher,
Alerta a cada tosse
Teu xarope de sangue e de alma
Preparado na bruxaria dos confins de um ventre
Traumatizado pelos medos e fantasmas
Habitando o útero da mulher
Que em espírito dorme comigo na cama
Me abraça incestuosa
Arrancando os espinhos da rosa
Com o algodão de tua proteção
Me devora majestosa
Na pele de rainha
Nas entranhas de meu sexo
Me transforma Casto
E me faz suar
De medo com o abraço
No epíteto de uma santa
O veneno da tarântula
Maldição de aracne incestuosamente casta
Me beija vermelho
Impregnando minha vida de batom
Numa fragilidade que se arrasta
Pela cauda de meu ser
Com teus lábios de Jocasta
Oprimindo cada impulso vital
Diluindo cada grito infernal
Cada olhar de sagacidade
Arrancado a agressividade
Ativa,
Transforma meu soldado em boneca
Passiva
Passada
Passado o tempo de viver
Escondido em baixo da cama
Com fel na ponta dos dedos
Na gulosa da Dama
Sujos de coceiras e masturbação
Na mistura dos corpos
Amorfos
Embriagados na lama
Na perversão
No submundo,
Escondido
Com medo do escuro
Habitando a escuridão
Com medo  do muro
Ao redor da alma e sua imensidão
Sinto teu perfume, percebo teu lastro
No abismo dos sonhos
Sou o que sobra
Casto,
Pelos olhos da Dama,
A Dama de Castro
E de pudores me arrasto,
Assexuado, me faz carne para abutres
Deformado carniceiro
Eu digo basta
Quando voltas do pesadelo
E nos meus olhos a violência transpassa
Delicada com teu perfume
E com tuas mãos de alabastro
Escuto tua voz, e ela me diz
Castro
Sim,
Eu castro,
Na dor e no amor
Eu castro
Na alegria e na tristeza
Eu castro
Na saúde e na doença
Eu castro
Na vida e na morte
Eu lhe protejo querido filho
Querido
Castro
E na dor da castração de uma semente sem vínculo com a própria solidão
Na ausência de raiz
Sobra sequer um triz
De um risco para ultrapassar
A falta de risco
O anti casto
Engolindo até o talo
Do falo dessa agonia subversiva
De inverter o próprio ser
Na ponta do lápis,
Na ponta do risco
O anti cristo
A anti crosta
Sem borra
Sem gomorra
Na experiência da lama
A morte da dama
Para além do bem e do mal
Amputado, nunca mais
Estuprado, nunca mais
Castrado, nunca mais
Eu digo basta,
Enquanto falo
Eu digo risco
O querido filho,
E comemoro o Anti cristo
O Anti Castro  !!



FC 

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