A pele,
Navio
fantasma vaga solto pelo mar dos corpos
Fogo de uma
chama em vela que arde,
Queima e
arrasta as mãos úmidas pela cintura encharcada por erupções das entranhas
Estranhas
Navio
fantasma que engole
A morte do
pavio
A asma
Embaixo da
pele,
Transparente
Veneno agudo
na dor que sente e reclama
Um pavio sem
chama
Sem vela,
Esse barco
navio
Fantasma
Na dor de
saber que não resta ninguém para culpar
E ninguém
para sentir
Tua asma em
volúpia
Doida em
carne viva de vida e loucura
Pelas
erupções cutâneas
Ao longo da
cintura
Da dor de
saber
O quanto de
não ser esta dentro do copo
Vidro boêmio
sustentáculo das tuas digitais enfermas
Quadradas no
redondo da vida
Sutis porém
assassinas
Em baixo do
tapete
Em baixo da
pele
Ardente,
Na semente
da dor que não se sente
A faca de
dois gumes enterrada na barriga
O punhal
entre os dentes
Não sente,
mas mata
Dilacera o
vertebrado dentro de nós
Moendo os
ossos no escuro
Transformando
a alegria em fumaça
Não,
Direi eu não
a tua taça
E por mais
que faças desaparecer a consciência de que se perde tempo
Mesmo não
admitindo o seu conluio irreversível que devora,
Os seus
cegos ponteiros no mundo
Na dor de ao
menos por um segundo
Não perceber
que de fato dói
E arde
E rasga
Como corta o
vento
Fatal do
amanhã desse tempo
Fantasma
Assoprando
embaixo da pele a sua velocidade sorrateira
Ardilosa
Assoprando
as pétalas da rosa
Para assim
Sem mais ser
Incorrigível,
Desaparecer
Sem tempo de
volta
Sem pele
E somente
encarnar
A morbidez
dos ossos
E encarar
A umidade da
terra
E assim
talvez,
Dessenterrar
o próprio corpo coberto de pó
Com uma pá
chamada vontade
Talvez assim
os ponteiros fiquem mudos novamente
E o tempo
volte a não existir
A não
arrastar
A cada
segundo essa carcaça para cova
Para o covil
dos fantasmas
Na ilha do
medo
Onde tantos
navios perderam seus mastros
Onde tantos
Ulisses enlouqueceram de tanto ouvir
O canto
magnífico da morte
Enlouqueceram
de tanto não ser,
Amarrados,
Dependurados
no mastro da solidão
Na terra
fantasma dos mortos
Na gélida volúpia quente dos tantos corpos
Que se
agarram para fingirem que não estão
Mortos
Um corpo
fantasma
Embaixo da
pele
A eterna
asma de não ser
Toda
humanidade ao mesmo tempo
Toda
maravilha que vive
E liberta do
mastro
Dilui-se em
alegria
Brilha seu astro
Seu sorriso
imortal
Para alem do
vazio carnal daqueles corpos
Dos vivos
mortos
Que sem
saber
Ou talvez,
Sabendo que
sabem que não sabem
Se
embrulham,
Infinitamente
mortos
Com a asma
na pele
A asma
fantasma
Daqueles
corpos molhados
Dos vivos
mortos
Presos
dentro de um quarto
Afogados dentro
de um copo
FC
sábado, 12 de maio de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
A DAMA DE CASTRO
No alto da torre,
Tenho o que quero
O que nunca morre,
Minha dama de ferro,
Por cada orifício,
Do juntar de meus dias,
A cada desperdício
Da voracidade diluída
Por teu carinho em sufoco
Com teus excessos de colo
Em tudo que quero
Minha dama de ferro
Sempre disposta
Sempre a servir
Nas barras e nas grades
Desse grande porvir
Como posso sustentar o peso se não sei pisar?
Como deve-se caminhar quando teus olhos cuidaram para que eu não precisasse enxergar?
No fundo do poço, tinha sempre uma lama
E na escuridão dessas trevas, sempre teus olhos de ferro,
As duas lanternas
Teus olhos de Dama,
Em meus pareceres,
Em meus disparates,
Na confusão de não saber o que se quer
Estavas linda e perfumada,
Com teus lábios de mulher,
Para com minha indecisão desaparecer,
Lixando minhas garras
Com o teu infalível proteger
Costurando as minhas amarras
Num jeito invisível de preencher
Cada espaço, cada pedaço,
Cada cosmos do meu ser,
Penetrado pela tua colher,
Alerta a cada tosse
Teu xarope de sangue e de alma
Preparado na bruxaria dos confins de um ventre
Traumatizado pelos medos e fantasmas
Habitando o útero da mulher
Que em espírito dorme comigo na cama
Me abraça incestuosa
Arrancando os espinhos da rosa
Com o algodão de tua proteção
Me devora majestosa
Na pele de rainha
Nas entranhas de meu sexo
Me transforma Casto
E me faz suar
De medo com o abraço
No epíteto de uma santa
O veneno da tarântula
Maldição de aracne incestuosamente casta
Me beija vermelho
Impregnando minha vida de batom
Numa fragilidade que se arrasta
Pela cauda de meu ser
Com teus lábios de Jocasta
Oprimindo cada impulso vital
Diluindo cada grito infernal
Cada olhar de sagacidade
Arrancado a agressividade
Ativa,
Transforma meu soldado em boneca
Passiva
Passada
Passado o tempo de viver
Escondido em baixo da cama
Com fel na ponta dos dedos
Na gulosa da Dama
Sujos de coceiras e masturbação
Na mistura dos corpos
Amorfos
Embriagados na lama
Na perversão
No submundo,
Escondido
Com medo do escuro
Habitando a escuridão
Com medo do muro
Ao redor da alma e sua imensidão
Sinto teu perfume, percebo teu lastro
No abismo dos sonhos
Sou o que sobra
Casto,
Pelos olhos da Dama,
A Dama de Castro
E de pudores me arrasto,
Assexuado, me faz carne para abutres
Deformado carniceiro
Eu digo basta
Quando voltas do pesadelo
E nos meus olhos a violência transpassa
Delicada com teu perfume
E com tuas mãos de alabastro
Escuto tua voz, e ela me diz
Castro
Sim,
Eu castro,
Na dor e no amor
Eu castro
Na alegria e na tristeza
Eu castro
Na saúde e na doença
Eu castro
Na vida e na morte
Eu lhe protejo querido filho
Querido
Castro
E na dor da castração de uma semente sem vínculo com a própria solidão
Na ausência de raiz
Sobra sequer um triz
De um risco para ultrapassar
A falta de risco
O anti casto
Engolindo até o talo
Do falo dessa agonia subversiva
De inverter o próprio ser
Na ponta do lápis,
Na ponta do risco
O anti cristo
A anti crosta
Sem borra
Sem gomorra
Na experiência da lama
A morte da dama
Para além do bem e do mal
Amputado, nunca mais
Estuprado, nunca mais
Castrado, nunca mais
Eu digo basta,
Enquanto falo
Eu digo risco
O querido filho,
E comemoro o Anti cristo
O Anti Castro !!
FC
Assinar:
Postagens (Atom)