sábado, 7 de abril de 2012

VALPURGIORGIA


Dos altos montes me inspirais,
Sacrossanto de fomes incidentais, no desvelo dos homens enquanto animais, nas florestas urbanas, sem o verde do manto, como pestes e bichos na carne e somente na carne, sem alma proliferais! 
E digo mais,
Dos altos montes infernais,
Despido das lágrimas do arrependimento,
Cercado  pelos corvos dos milharais,
Inspirai vosso falo oculto
Nas bocas tantas
Espalhadas pelas almas caladas
Que na mentira santa
Já falais!

Falai, falai,
Falo vosso do destemor,
Abocanhai, abocanhai,
Falo nosso do desamor
E invejai, invejai
Liberdade nossa que alma tua
Na castidade de uma pele crua
Numa vida não gozais!

E rasteira,
Penetrai
E ligeira,
Deflorai,
E certeira,
Devastai,
Com vossos olhos ferais
As alcovas mais profundas
Das furnas virginais
Onde teu perfume viscoso
De aspecto jocoso
Torna impuro e infecto
Com a seiva que injetais
E sem esforço transformai
O que antes eram crianças
Em porta vozes
Canibais!

E no amanhecer cabal
Após o culto bacanal
Oculto no sangue
O canino mais viral
Sem esforço transformai
O que antes era saúde
Em andarilhos amorais,
Em destinos rubros
No luto sem esperança
De rever os tantos filhos
Que com a peste
Abortais
No liquido que investe
As tais chacinas infernais
E a peste
Propagai
Quando digo que me ateste
Arrancando me as vestes
E sem alma, infectai
Engolindo no aborto o parto
Com a dor que propuseste
Dilacerando me de quatro
Quando digo que moleste
E tinjas de negro
O resplendor celeste
Da abóbada quando cai
Fulgurada na solidão agreste
Do sertão de cada homem
Desta vida que me deste
E  que tão fácil me tirais !

Sim,
Enquanto falo
Penetrai
No instinto mais mortal
Enquanto calo
Calejai
O destino mais retal
Que a cultura impõem o veto
Mas que alma mais liberta
Do embuste mais discreto
De paixao transforma o reto
E da cegueira me curais!

Sim,
Vinde para mim,
Amigo secreto
Das valpurgias orgiais
Donde mista o belo sexo
Na clareza da indistinção
Sem os gânglios culturais
E fazei de meu colo uníssono
O voz que libertai,
Vós,
Os roucos iniciais
Dessa província de cegos
E bastardos
Dos tantos filhos sem pais
Registrados na ignomínia
Das certidões cartoriais
Abalizados com as propinas
Dos cabrestos filiais
Esquartejados nas esquinas
Dos mercados transnacionais
Com gosto de estupro no rosto
Meninos Transexuais
Tragados pelo fundo do poço
Abandonados nas casas da vida
E nas macas dos hospitais

Sim,
Venham para mim
Pequenos, amortizados pelo medo
Grandes, minúsculos em segredo
Medianos, inexperimentados pelo desejo
E tragai a vital energia
Aquela que um dia
Em algum cofre aprisionais
E senti toda a alegria
Aquela que um dia
No silêncio de tais ais
Sem saber,
Assassinais!

Para assim poder
Na orgia manifesta
Da paixão para com o ser
Levemente Ser
Expiada a culpa de existir
Sem porque
De gozar sem poder
E de querer
Livremente se dar
E receber
Toda dádiva humana
Contida num único gesto
Manifesto de Prazer !

 FC


















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